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O PODER DO CORVO

Presente em muitas culturas e centro de muitas histórias, nem mesmo a transição cultural causada pelo cristianismo pode varrer a Magia do Corvo do inconsciente coletivo.  Pela força de sua presença e por seus atributos, o Corvo inspira medo e respeito em todos os lugares e em todas as pessoas. O Corvo é o Desbravador do Desconhecido, o Revelador do Mistério e o Portador da Magia.
A Medicina do Corvo trata do conhecimento profundo de todas as realidades, que vai além do ponto de vista pessoal e parte diretamente da Fonte: o Corvo tem visão aguçada, pode ir aos lugares mais profundos e inacessíveis, tem trânsito livre em todos os planos, pois possui a leveza necessária para passar despercebido. Ele é um Mensageiro, pois atravessa as barreiras do tempo, do espaço e das dimensões, e volta trazendo sempre em seu cantar a revelação do que encontrou em sua Jornada. O que poucos sabem é que o Corvo tem as mesmas habilidades do Papagaio de assimilar línguas, o que o torna um comunicador eficaz ao transmitir a mensagem na linguagem em que outro é capaz de compreender.
Sempre buscando ser útil a quem o rodeia, o Corvo grita suas descobertas e seus conhecimentos, partilha tudo o que encontra em seu caminho. Por isso, o Corvo também ficou conhecido como “ave de mau agouro”, pois seu canto prenuncia a aproximação do perigo invisível, que ele é capaz de detectar com sua grande intuição e seu talento para quebrar a linearidade do Tempo.
Por ser um viajante do Tempo-Espaço, trabalha como um agente de resgate; o Corvo encontra qualquer coisa ou pessoa onde quer que esteja, resgata e restitui ao seu lugar. Assim, ele encontra também fragmentos perdidos do Ser em sua história de vida ou nos porões do inconsciente. Por isso é o Portador da Magia – sua Magia é a Cura que se dá de dentro para fora, ao observar os seres desde seu âmago além das aparências externas, iluminando sua verdade interior e resgatando qualquer elemento perdido que possa faltar. Por isso, também, o Corvo é chamado para trazer de volta a Infância perdida e todos os elementos que se foram com ela. Além disso, dizem as lendas que o Corvo conhece a Magia porque testemunhou a criação dos seus fundamentos, viajando pelo Tempo-Espaço e observando camuflado dentro da Escuridão Original.
Sua cor negra e sua capacidade de viajar na escuridão não significam que o Corvo goste das trevas, como muitos pensam. Ao contrário, sua visão é luminosa e ele enxerga a luminosidade em tudo mesmo na ausência de luz. Seus ninhos, geralmente, são enfeitados com as coisas coloridas e brilhantes que ele encontra, e representa o santuário interno onde guardamos e alimentamos com cuidado a nossa Criança Sagrada, garantindo que o conhecimento não nos corrompa nem ensoberbeça.  
Brincalhão e trapaceiro como um Coiote, o Corvo prega “peças curadoras” com suas travessuras. Rabugento e mal-humorado como um velho ermitão, ele aprecia a tranqüilidade e a solidão e não gosta de ser perturbado em suas viagens. A aparição do Corvo, em geral, é um presságio mágico. O Corvo vem trazer um novo conhecimento, a iluminação sobre algum aspecto oculto dentro de nós, a cura de algo fragmentado em nossa integridade, o resgate de algo importante que ficou para trás, um processo de limpeza profunda ou o aviso dos perigos em nosso caminho. A Medicina do Corvo é um convite a mergulhar profundamente no Mistério e enxergar a luminosidade do saber em meio às trevas do desconhecido – quer esse desconhecido seja o Universo ou seu próprio interior – para partilhar o saber encontrado levando a Cura e espalhando o Conhecimento.

HISTÓRIAS DE CORVO

Dizem que Odin é acompanhado por dois Corvos, Huginn e Muninn, que lhe contam tudo o que vêm em Midgard, um de seus reinos.

Diz a lenda que o Lobo e o Corvo andam juntos. Que o Lobo ensina ao Corvo onde está o Poder, como farejá-lo, como caçá-lo, como caminhar e como viver. E o Corvo ensina ao Lobo a Magia Original, e protege-o avisando sobre os perigos ocultos em seu caminho. O Lobo alimenta, o Corvo cura e protege. Esse é o simbolismo da relação de simbiose e interdependência entre masculino e feminino, onde o Lobo é o feminino, aquele que nutre e leva a sabedoria, e o Corvo é o masculino, aquele que desbrava e protege e traz o conhecimento. Na simbologia desta relação, masculino e feminino estão presentes em cada um: O Lobo, o feminino que nutre, tem o masculino em sua essência caçadora e pragmática; o Corvo, o masculino guardião que protege, tem o feminino em sua essência intuitiva e mística.

Para os Cherokees, o Corvo leva o espírito de quem morre - ele chega antes da Morte e se vai logo em seguida. O Corvo está presente também na mitologia grega. São muitos símbolos e muitas histórias...Tanto para alguns dos povos nativos da América do Norte quanto para os celtas, germanos e siberianos, o Corvo é o criador do mundo visível, ele veio do Vazio Inicial trazendo o conhecimento para moldar a realidade material. Há muitas lendas e histórias sobre o Corvo e suas travessuras e proezas. Aqui ficam algumas...

 

O CORVO ARCO-ÍRIS

 

O Corvo Arco-íris era bonito de se ver e ouvir nos tempos em que nunca ficava frio, nos tempos dos Dias Antigos, antes do Espírito da Neve aparecer no mundo. Quando o Espírito da Neve apareceu, todos os animais e pessoas estavam congelando e um mensageiro foi selecionado para subir e falar com “Kijilamuh ka’ong”, O Criador Que Cria Ao Pensar No Que Vai Ser.  A missão do mensageiro era pedir ao Criador que ele pensasse num mundo mais quente, para que eles não gelassem até morrerem.

O Corvo Arco-íris foi escolhido para ir e ele passou três dias voando para o alto. Ele conseguiu a atenção do Criador cantando belamente, mas mesmo tendo implorado para que o Criador fizesse o mundo mais morno, o Criador disse que não podia, pois tinha pensado no frio e não podia desfazer o pensamento. Mas Ele pensou no Fogo, uma coisa que esquentaria as criaturas mesmo que estivesse frio. E então Ele colocou um graveto no Sol até que começasse a pegar fogo e entregou-o ao Corvo Arco-Íris para que este o trouxesse para as criaturas da Terra. O Criador disse ao Corvo Arco-Íris que fosse rápido antes que o graveto queimasse por completo. 

O Corvo Arco-Íris voou para baixo o mais rápido que pôde. O graveto quente carbonizou todas suas belas penas até elas ficarem pretas, e como estava carregando um graveto queimado no bico, ele respirou fumaça até sua voz ficar rouca.  E então o Corvo Arco-Íris era preto e tinha uma terrível voz esganiçada para sempre, mas todas as criaturas o honraram por trazer o Tindeh, fogo, para todos usarem.

O Corvo, nos dias de hoje, ainda é honrado por caçadores e animais que nunca o matam por comida. E se você chegar perto de suas penas negras ainda pode ver as cores do arco-íris brilhando no preto. 

 

Origem da Terra dos Haida

(A tribo haida é um tribo norte-americana, cujos territórios se estendem desde os Estados Unidos até o Canadá. A nação é dividida em clã das Águias e clã dos Corvos.)

 

Antes dos dias de nossos avós não havia nada, além de água. Era tudo água, com exceção de um único recife. Lá viviam seres sobrenaturais.  Mas eles ficavam todos amontoados. O corvo vôou tentando arrumar um lugar onde pudesse ficar de pé,  mas ele não podia imaginar aonde.

Então ele olhou para o céu. Era sólido. Era tão lindo e o corvo estava fascinado por ele. Ele disse: “vou até lá!”, então ele correu o bico pelo céu e o escalou.

Ele viu que a Cidade dos Céus era um lugar bem grande. O chefe vivia lá e na casa do chefe havia um bebê.  Quando a noite chegou,  o corvo pegou o bebê pelo calcanhar e balançou os ossos para fora. Então ele vestiu a pele e fingiu que era o bebê.  Porém, mais tarde ele saiu da pele do bebê e virou corvo novamente.  Ele vôou de casa em casa e fez muita bgunça. Enfim uma mulher o viu e avisou para todos.

Então o chefe reuniu sua gente e eles cantaram uma canção para o corvo. Erauma canção mágica, e no meio da canção o corvo deixou de se segurar, e caiu do Cidade dos Céus até que atingiu as grandes águas;

Então o berço ficou a deriva nas águas por um bom tempo. O corvo chorou, então ele mandou a si mesmo que dormisse, mas quando o corvo dormiu, alguma coisa disse: “Seu poderoso pai manda você entrar”. O corvou se recobrou rápido. Ele olhou em direção ao som, mas não viu nada, não havia coisa alguma ali. Logo a voz repetiu as palavras.

Corvo olhou através do buraco em seu lençol de pele de marta.  Então, através das águas veio um mergulhão dizendo, “Seu poderoso pai diz para você entrar!”.

O corvo desceu pelo totem até chegar a uma casa submersa, onde encontrou o Homem Gaivota, seu pai.

O corvo se levantou. Seu berço estava indo ao encontro de uma grande alga marinha. Ele caminhou sobre ela, e olhem! Na verdade era um totem de duas cabeças feito de pedra. Quando o corvo desceu, descobriu que ele podia respirar tão facilmente quando no ar acima.

Abaixo do totem havia uma  casa. Alguém disse, “venha, entre meu filho, eu ouvi falar que você quer emprestar algo de mim”. O corvo entrou. No fundo da casa estava sentado um velho Homem Gaivota(1). O ancião mandou ele até uma caixa que estava pendurada em um canto. O corvo a aberiu e tirou de dentro dois grandes pedaços de alguma coisa. Uma era preta e a outra estava coberta com pontas brilhantes.

O Homem Gaivota pegou os dois pedaços e mostrou para o corvo. Ele disse. “coloque este pedra pontuda na água primeiro, e depois coloque a preta. Então tire um pedaço de cada e cuspa fora e os pedaços vão se reunir;” assim ele falou.

Quando o corvo saiu, ele colocou o pedaço preto na água primeiro. Quando ele bicou um pedaço da pedra com pontos brilhantes e jogou na água, as pontas se juntaram novamente. Ele não fez como tinha sido orientado. Então ele voltou para a pedra preta, bicou e cuspiu fora de novo. Os pedaços ficaram presos. Então eles começaram a se transformar em terra. Ele colocou isso na água, e isso se esticou até se tornar a terra dos Haida. Do outro pedaço ele fez o continente.

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